Silence...

"Meu raptor entrou em minha vida, em minha casa.
Sentou comigo à mesa, consumiu minha água, bebeu do meu sono e da minha ingenuidade. Invadiu meu mundo sem violar qualquer lei imposta por mim, porque eu simplesmente nada impus.
Tinha voz mansa, passo leve e ensurdecedor, encantador era tudo que exalava. Deu-me a sua mão e levou as duas ao peito tomando nela a minha história inteira. Adentrou, assim, meus cômodos. Conheceu cada canto, cada fresta que dava pra dentro de mim, daquilo que guardava como meu sem qualquer cerimônia, sem nenhuma dificuldade.
Juntos, seguimos boa parte do caminho, até o dia em que o sol (bendito sol!) revelou sua verdadeira face. Vi seus dentes pontiagudos, senti seu hálito frio roçando meus olhos úmidos e mórbidos de susto. 

Foi então que meu raptor alterou seu tom de voz, apertou meus dedos e me torceu a espinha com sofreguidão sem qualquer resistência minha. Era agora vítima e réu de minha própria permissividade. 
Esse tempo durou muito, muito, doeu deveras, sangrei de alma...mas passou. Outro dia o vi, novamente como outrora, como quando falava coisas cálidas e confortantes com olhos de pérola e o sentimento não era outro senão aquele que se sente diante de um total desconhecido, para o qual a boca não dirige palavra e o coração não vibra por não conhecê-lo. 
Meu raptor mora dentro de mim, comigo, mas não habita minha lembrança... " (Rosilene por ela mesma)

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