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Por @denis.bezerra37

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Teatro e Costura: memórias em formação e em práticas performativas na Amazônia


Foto: Denis Bezerra

No último dia 26 de outubro de 2019, o Grupo de Pesquisa PERAU – Memória, História e Artes Cênicas na Amazônia/UFPA/CNPq esteve em atividade no município paraense de Mocajuba, através do projeto de extensão Memórias Cênicas: formação, reflexão e práticas performativas/PROEX-UFPA/PERAU.
A ação foi elaborada pela discente do curso de Licenciatura em Teatro da UFPA e bolsista do projeto de extensão, Sidiane Nunes. A ideia surgiu a partir das inquietações e reflexões da discente quando se integrou ao grupo de pesquisa PERAU, atravessada pelas leituras do campo teórico-metodológico que dá base para as ações do grupo: memória, história, artes cênicas.
Sidiane pensou em uma ação a partir de suas experiências pessoais como mãe solo, mulher amazônica nascida e criada no município paraense de Mocajuba, que tem como um de seus ofícios a costura. Diante dessa realidade, como pensar e realizar uma ação extensionista que integrasse essas experiências de vida e o teatro?
Movida por essas questões, Sidiane organizou a oficina Teatro e Costura, realizada no período de 21 a 26 de outubro de 2019, em sua cidade natal, e, dessa maneira, o grupo de pesquisa PERAU se fez presente em mais uma ação extensionista, criando diálogos entre a universidade e a comunidade, alicerçado em um pilar tão importante para a missão de uma instituição pública.
Como coordenador do grupo e do projeto e espectador/participante do processo, acredito que essas ações só nos fortalecem, como pesquisadores, artistas e, acima de tudo, como sujeitos sociais, como pessoas que vivem o dia a dia da Amazônia. Comungamos de muitas práticas culturais, são muitas memórias, individuais e coletivas, que nos enlaçam e nos fazem crer que o encontro entre arte e vida, universidade e comunidade, educação e vida são caminhos entrelaçados e indissociáveis.
Durante os cinco dias de oficina, segundo Sidiane, as mulheres participantes experimentaram e trocaram saberes e práticas que envolvem os processos de costura. Elas criaram suas obras, fiaram linhas, cortaram e costuram tecidos, colocaram suas máquinas para funcionar, algumas experimentando pela primeira vez. Somado a isso, cerziram, bordaram e narraram suas memórias, suas histórias de vida, protagonizando suas experiências como mulheres, mães, mocajubenses que no dia a dia criam suas formas de ser e estar no mundo, por meio do teatro, de jogos e situações cênicas propostas por Sidiane. Foi um momento dela, como professora de teatro em formação, de experimentar e pôr em prática aquilo que aprende na Licenciatura em Teatro da UFPA.

Foto: Sily Vieira

Foto: Camila Carvalho

Foto: Sily Vieira

Foto: Sily Vieira.

No último dia da ação, as mulheres foram para a Praça Matriz da cidade, na concha acústica performar suas experiências, mostrando à comunidade o que produziram na oficina, além de dizer suas sensações.







Além desse momento, tivemos a participação da performatriz Rosilene Cordeiro, com o Ato Cênico Ouça, meu filho!, que, segundo ela, “é um ato cênico inspirado na arte da performance narrativa que alguns dizem 'espetáculo', pela linguagem cênica, entre elementos teatrais e jogos imaginativos, completamente presente em encontros idealizados por mim”.














“Ouça, meu filho!” proporcionou momentos de interação entre a artista e seus espectadores/ouvintes de suas narrativas. Rosilene Cordeiro nos envolve, literalmente, em suas tessituras performativas, compostas por suas histórias de vida, ela performa a oralidade presente em nós, ativa nossas memórias, individuais e coletivas, relacionadas à vida, àquilo que vivemos e experenciamos em nossas relações com o mundo, em nossos ambientes sociais (família, escola, etc.), nas diversas situações em que nós vivemos. O Ato Cênico encerrou as atividades da oficina Teatro e Costura, abençoada com uma chuva amazônica, entre as ventanias dos deuses, raios e trovões, num toró de emoções, às margens do Rio Tocantins, que segue seu curso para o mar, com histórias de vidas amazônicas, marcadas pelo encantamento, pela necessidade de continuar existindo. Mulheres e homens amazônicos que habitam, vivem, lutam, narram-se!



Belém, 28 de outubro de 2019.
Denis Bezerra

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