Percepto


“O de olhos grandes deu-me a lua, pintou-me o amor e só.
O de cachos escuros livrou minha inocência dando-lhe asas perfumadas e gravuras da meninice.
O poeta cuidou de mim por brancas noites, colorindo desejos há muito não visitados.
Aquele que não me deu uma história prendeu-me por caudalosos anos e ainda o tenho, resguardado em fitas matizadas de saudade.
Do carinho daquele que era belo, leve e provocante esculpi lições, risos e estrelas.
Do impedido não desejo qualquer proximidade, mesmo admitindo que sua ‘armadilha’ de palavras simples e bem colocadas ornou meu verbo-altar fazendo-me sorrir ao regar as folhas úmidas de solidão e espera seca.
Aquele a quem neguei o beijo e a alma reservo devotada ternura sem jamais poder esquecer suas tênues rimas de conquista.
Mas o cálido, de preto vibrante, rasgou a cena com requinte e, num enredo breve e certeiro, laçou-me com suas frias, desajeitadas e audaciosas mãos, sem sequer pronunciar uma única e, por certo, desnecessária palavra.
De posse dos meus dias, dos meus sonhos, lançou-me, indefesa, no abismo da procura.
A esse, e só a ele, minha pedra mais preciosa: o amor tatuado num corpo de mulher”.

(Rosilene Cordeiro-16/04/09, trânsito, ao moço quase desconhecido)

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