SOBRE O PROCESSO CRIATIVO DA PERSONAGEM FOSCA NO ESPETÁCULO “PAIXÃO FOSCA”



“Compor Fosca foi um privilégio e um desafio muito grande. O convite para protagonizá-la, ‘emprestando-lhe’ corpo e palavra no palco, uma personagem consideravelmente forte, carregada de nuances dispares e movediças, obscurecida em seu acervo psicológico e emocional, tão cristalina e bem descrita na linguagem literária, vibrou em mim como um importante e há muito desejado exercício que surgia no âmbito profissional. Procurei percorrer uma criteriosa e interrogativa viagem de pesquisa ao universo íntimo de seu contexto social e político, buscando ‘desenhá-la, inscrevê-la com contornos nítidos de uma personalidade atormentada por conflitos pessoais completamente identificáveis no discurso do nosso tempo em diálogo estreito com aquele no qual ela surge na minuciosa compilação de Tarchetti. Essa experiência mágica e inteiramente comprometedora, exigiu de mim disponibilidade, tempo e um emaranhado de interlocuções inter (sub) textuais nos quais temáticas como dor, solidão, angústia, doença, medo, fantasia, obsessão, paixão e entrega incondicional, deságuam numa temperatura cênica na qual Fosca dá-se ao público como costura delicada, fruto de refinamento oportunizado pelos sucessivos ensaios, compartilhando com ele a assinatura da obra. Um elenco relativamente jovem e altamente competente formando um grupo independente e compromissado com o projeto, ao lado de um estudioso e apaixonado diretor, contribuem sobremaneira para que Fosca se configure uma persona memorável, divisora de águas grandes no fluxo da minha carreira artística teatral, constituindo-se um presente carinhoso, uma lembrança feliz.”

(Rosilene Cordeiro)

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