Tribuna do Salgado divulga "Ouça,meu filho!", em Bragança/PA. Maio 2015

FONTE © ‪#‎TRIBUNADOSALGADO‬ ‪#‎TEATRO‬  Ouça meu filho em Bragança 

 A cena se desenrola como um novelo no interior de um labirinto, onde estão guardadas estas estórias e histórias, como se estivessem perdidas e precisassem ser (re)encontradas pelas memórias de cada um de nós. E cada narrativa pressupõe recordações que estavam adormecidas e que se vão revelando como quem puxa a ponta de um longo fio que nos leva a um passado que renasce no presente, numa mistura de literatura com o teatro, elementos que caracterizam o que Rosilene Cordeiro conceitua como a “dramaturgia do espectador” .

A pesquisadora, arte e educadora e atriz Rosilene Cordeiro esteve em Bragança para participar do Cortejo do Coletivo de Poetas do Sarau da Lua Minguante, que percorreu as ruas da cidade este fim de semana. Na bagagem, Rosilene trouxe o espetáculo autoral “Ouça meu filho”, da Companhia Avuados de Teatro, que ele apresentou para dezenas de crianças, adolescentes e seus respectivos pais, na casa de uma professora, no bairro da Vila Sinhá. 


O espetáculo “Ouça meu filho” tem uma proposta aconchegante, adaptando-se facilmente ao espaço em que ele acontece, fato que aliás é uma marca das ações de Rosilene Cordeiro, que explora os recursos essenciais do ator, a voz e o corpo, agregando à experiência também alguns reduzidos elementos cênicos, os quais vai incorporando na cena. Mas, além desta relação ator-objetos, a proposta desta encenação é a de transformar em teatro as histórias e estórias que as pessoas contam umas paras outras nas suas casas, adultos e crianças, que, durante a apresentação, tornam-se em narradores e/ou atores.
A atriz começa por fazer um jogo, uma espécie de monólogo, em que se relaciona com os objetos das casas em que ela faz a apresentação, seguindo-se ao convite para que as pessoas contem as histórias e/ou estórias, que podem ser reais ou ficcionais, cenas pessoais ou mesmo lendas. Entretanto, todo este jogo começa bem antes, quando as pessoas vão chegando, sentando-se à mesa do café, ritual praticado e invocado no espetáculo, que é bem intimista e memorialístico.

Rosilene Cordeiro evoca os ensinamentos de sua própria avó e toda a relação que esta possuía com as ervas que costumava buscar no quintal. Segundo a atriz, sua avó jamais saiu de casa e construiu toda a sua percepção de mundo entre a sala e o quintal. Com um mínimo de objetos e com a força da fala-narrada, as memórias de Rosilene emocionam uma plateia que súbito abandona a passividade do espectador e começa também a aderir ao espírito das contações de estórias. Ao que todos pensam que o espetáculo encerra, Rosilene pede licença e informa que a encenação tem início exatamente depois de contadas as estórias. E ela então se retira do espaço com os atores convocados para tornar em teatro as conversas que acabaram de trocar umas com as outras. É divino este momento.
Quando retorna com a segunda parte, criada a partir das falas da plateia presente, todo aquele conjunto de emoções que atravessaram a mesa do café e o diálogo na sala são potencializadas de forma coletiva pela atriz, que conduz as dramatizações de uma forma bastante natural, de forma a que nos sintamos em casa, como nos velhos tempos, em que as famílias dialogavam, todos falavam e todos se ouviam. 

E a cena se desenrola como um novelo no interior de um labirinto, onde estão guardadas estas estórias e histórias, como se estivessem perdidas e precisassem ser (re)encontradas pelas memórias de cada um de nós. E cada narrativa pressupõe recordações que estavam adormecidas e que se vão revelando como quem puxa a ponta de um longo fio que nos leva a um passado que renasce no presente, numa mistura de literatura com o teatro, elementos que caracterizam o que Rosilene Cordeiro conceitua como a “dramaturgia do espectador” .

E toda esta cena, segundo Rosilene Cordeiro, significa uma explosão, que apresenta a cidade à própria cidade, razão pela qual ela e equipe formada pela produtora e fotógrafa Chimenia Pinheiro, e pelo seu “Cavaleiro de Ogum”, o sonoplasta Lenardo Oliveira, com quem ela divide a criação de suas ações em espaços culturais e mesmo nas ruas, registraram o máximo possível cada momento vivido. 

E a atriz informa que todo o material coletado no Cortejo-Sarau e na audição do “Ouça meu filho” (imagens, textos, sons e instalações fílmicas, visíveis e invisíveis) vão se tornar a obra-resultado de suas intervenções artísticas, como estas que ela fez em parceria e co-realização com o Coletivo Bragantino de Poetas do Sarau da Lua Minguante.



(Texto: Francisco Weyl / Foto: Dri Trindade)

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