Amanhecer poético


Vez ou outra acordo assim, com essa calmaria incomodada e esse desejo de ser mais... as palavras emprestadas dos poetas me conduzem pra dentro desse lugar-EU que teima em divagar solitário nas coisas do meu existir... Sendo tão somente o q são...Vá entender!!
Safena

Sabe o que é um coração
amar ao máximo de seu sangue?
Bater até o auge de seu baticum?
Não, você não sabe de jeito nenhum.
Agora chega.
Reforma no meu peito!
Pedreiros, pintores, raspadores de mágoas
aproximem-se!
Rolos, rolas, tinta, tijolo
comecem a obra!
Por favor, mestre de Horas
Tempo, meu fiel carpinteiro
comece você primeiro passando verniz nos móveis
e vamos tudo de novo do novo começo.

Iansã, Oxum, Afrodite, Vênus e Nossa Senhora
apertem os cintos
Adeus ao sinto muito do meu jeito
Pitos ventres pernas
aticem as velas
que lá vou de novo na solteirice
exposta ao mar da mulatice
à honra das novas uniões

Vassouras, rodos, águas, flanelas e cercas
Protejam as beiras
lustrem as superfícies
aspirem os tapetes
Vai começar o banquete
de amar de novo
Gatos, heróis, artistas, príncipes e foliões
Façam todos suas inscrições.
Sim. Vestirei vermelho carmim escarlate

O homem que hoje me amar
Encontrará outro lá dentro.
Pois que o mate.
Elisa Lucinda

"Lá está ela. Janela aberta ao sol. Observo seu vulto à distância . Percebo a respiração profunda que sorve lentamente o ar fresco e puro da manhã. Debruça-se sobre o parapeito e fica a contemplar o jardim. Parece estar completamente feliz. Respeito este momento de sua intimidade, espero um tanto para me aproximar e provocar esta conversa imaginária, mas perfeitamente possível. Ouço o chamado em voz quase imperceptível: Vinde ouvir a história da vida ..."

Cecília Meireles
Ai, palavras, ai, palavras,
Que estranha potência a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
Sois de vento, ides no vento,
No vento que não retorna,
E, em tão rápida existência,
Tudo se forma e transforma!
(...)
A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...
(...)
Detrás de grossas paredes,
De leve, quem vos desfolha?
Pareceis de tênue seda,
Sem peso de ação nem de hora...
- e estais no bico das penas,
- e estais na tinta que se molha,
- e estais nas mãos dos juízes,
- e sois o ferro que arrocha,
- e sois barco para o exílio,
- e sois Moçambique e Angola!
(...)
Ai, palavras, ai, palavras,
Que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro de aragem...
- sois um homem que se enforca!

Cecília Meireles

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