Crítica teatral: Ainda ''Paixão Fosca''








O crítico Ari Pontes avalia o teor filosófico e artístico do espetáculo, apresentado no Teatro Waldemar Henrique
18/11/2009 - 12:03

Por Ari Pontes

“Paixão Fosca”, encenada nos dias 3, 4 e 5 de novembro, merecia um espaço mais digno. O Waldemar Henrique, como lugar de representação, deixa muito a desejar. Exíguo, calorento, tosco, tem todas as deficiências que um espaço cênico não deve ter. Ainda assim, valeu a pena. O que se viu no palco fez com que o espectador abstraísse das imperfeições do local.
O texto possui um conteúdo profundo, razão pela qual consegue um expressivo efeito dramatúrgico. Seu sentido reside na expressão da ideia de que o ser humano precisa de um amor que resgate, que redima, que liberte, que complete. Ou seja, aquela ilusão de que “Quem ama busca o outro para tornar-se perfeito”. A obsessão de Fosca, de ser amada, atesta tal asserção.
Do texto, pode-se depreender uma assertiva filosófica. Por exemplo: “A única coisa permanente é a mudança", consideração heraclítica sobre o fluir das coisas, está implícita na paixão de Giorgio (Rodrigo Braga) e Clara (Paula Diocesano), sentimento que prenunciava ser duradouro, mas que não resistiu ao impacto de uma nova paixão, a de Fosca, mulher marcada por uma pungente frustração amorosa.
E Giorgio, que capitulou ante à insistência de Fosca em tê-lo como amante, diferentemente de Baudelaire (“Peguei a beleza, coloquei-a sobre o colo e espanquei-a”), pegou a quasimodesca Fosca, abriu seu coração e lá acolheu-a (sob os resmungos da plateia, feminina, principalmente).
Tudo, em “Paixão Fosca” (texto, atores, iluminação, música, principalmente estas, funcionalmente utilizadas), são, na verdade, significantes expressivos a enriquecer o teor dramático da história.
A palavra, além de ser um signo linguístico, dependendo de como é articulada, adquire um valor semiológico adicional, indo além de sua função puramente semântica. No teatro, “Paixão Fosca” prova isso, sublinha a variação de humor dos personagens. Ora suave, a ressaltar o colóquio amoroso dos amantes Giorgio e Clara, ora colérica, como na reprimenda do médico (Gual Dídimo) ao capitão Giorgio, ou, ainda, em alguns diálogos, igualmente tensos, entre o capitão e Fosca (Rosilene Cordeiro). O fato é que o diálogo se manifesta de tal forma eloquente (entre Giorgio e Fosca, principalmente) que acaba por envolver o público em seu clima de tensão.
Loas à exuberante atuação da atriz Rosilene Cordeiro, como Fosca, sem duvida, o grande nome da peça. Palmas também para os atores Rodrigo Braga e Gual Didimo, corretíssimos em suas atuações. Marinaldo Silva (dublê de ator e diretor) esteve bem na primeira função; na segunda, conduziu o espetáculo sem muita audácia, em termos de criatividade, mas soube definir bem o que queria de seus dirigidos. Sobre Paula Diocesano, diga-se que ainda não é uma atriz plena, mas poderá vir a sê-lo, contanto que se prepare adequadamente. Não comprometeu, entretanto.

Comentários

Rodrigo Monteiro disse…
Rosilene, roubei uma parte da foto desse post bem no jeitão da internet e só agora me toquei em vir pedir permissão. se tu não deixar, eu tiro, tah.

tu deixa?

bjs

rodrigo
csonakos@hotmail.com
www.teatropoa.blogspot.com

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