Outras Palavras...


Percepto...


“O de olhos grandes deu- me a lua, pintou- me o amor e só.
O de cachos escuros livrou minha inocência dando- lhe asas perfumadas e gravuras da meninice.
O poeta cuidou de mim por brancas noites, colorindo desejos há muito não visitados.
Aquele que não me deu uma história prendeu- me por caudalosos anos e ainda o tenho resguardado em fitas matizadas de memória.
Do carinho daquele que era belo, leve e provocante esculpi saudade, risos e estrelas.
Do impedido não desejo qualquer proximidade mesmo admitindo que sua ‘armadilha’ de palavras simples e bem colocadas ornou meu verbo- altar fazendo- me sorrir ao regar as folhas úmidas de solidão e espera seca.
Aquele a quem neguei o beijo e a alma reservo devotada ternura sem jamais poder esquecer suas tênues rimas de conquista.
Mas o cálido, de preto vibrante, rasgou a cena com enredo breve levou- me em suas frias, desajeitadas e audaciosas mãos, sem pronunciar uma única e, por certo, desnecessária palavra.
De posse dos meus dias, do meu sono e dos meus sonhos lançou- me, indefesa, no abismo da procura.
A esse, e só a ele, minha pedra mais preciosa: o amor tatuado neste corpo de mulher”.


(Rosilene Cordeiro- 16/04/09, no trânsito)


“Por muito tempo tua pele roçou em minhas lembranças mais cativas.
Teu cheiro acompanhou paulatinamente o compasso de cada pensamento meu.
Sentia a tua respiração e aguardava teu hálito com a mesma cadência de uma criança a espera do doce.
O doce, o teu sorriso e a minha constante busca por ele, por dias aqueceu meu sono e me fez repousar em teu corpo amigo e pulsantemente sedutor.
Um dia, sem que me avisasses, levantaste a tenda onde trocamos juras e me deste o sabor da solidão de nós.
Atordoada e sem entender, acreditava ser uma dor transitória aquela súbita perda.
Hoje, lúcida e paralisada pelo inesperado ingresso no mundo da dúvida, caminho me perguntando:
_ Onde ficaram os versos de lá?”

(Rosilene Cordeiro, sem título, sem data)



CRUZAMENTO



Eu estranha, Tu deslize
Eu de salto, Tu capricho
Tu ardente, Eu promessa
Tu digeres, Eu escolho
Nós, desejo e melodia.

Eu chamego, Tu receias
Eu atiro, Tu suspeitas
Tu menino, eu garota
Tu comprimes, Eu atiço
Nós, certeza e vacilo.

Eu pergunto, Tu te esquivas
Eu sonora, Tu se abrindo
Eu gemente, Tu gigante,
Tu silêncio, Eu penumbra
Tu alheio, Eu permito
Nós, permuta e bom humor.

Tu imagem, Eu imagino
Tu desarmas, Eu te vejo
Eu aproximo, Tu ensaias
Eu sinuosa, Tu exposto
Tu retilíneo, Eu poeta.



(Rosilene Cordeiro, ao belo e estranho moço)



Não me peça pra contar o tempo que não tivemos.
A tarde está cinza e o sol se deita sobre histórias úmidas caídas sob a janela.
Não deseje saber por que pensei em copos vazios, abraços e passeios não vividos:
É domingo e uma multidão sem nome caminha perdida embaixo dessa janela xadrez.
Estática e remota, com rugas que desnudam um rosto que já passou dos 30, arrisco leves rabiscos de auroras pálidas que o livro do tempo, dia- a- dia, folheia diante de mim, a sós.
Escurece aqui da janela que esse domingo me traz.
Domingo de tempo presente- passado, de tempo tácito e veloz.
De um tarde cinza, surda e sem nome, sozinha de nós.

(Rosilene Cordeiro- 19/07/2009, pós- praia/ nostálgica)

Comentários

Rocco Lopes disse…
Que lindas as tuas palavras, derramando sobre o mundo um pouco mais de ternura e beleza.Amo a o seu amor pela poesia e pela arte. És das minhas. Beijosss
O grito disse…
Querida Rose, seus textos são maravilhosos! Antes de você começar a bordar seu mundo com poemas tão belos, eu já dizia que você era uma poeta. Suas descrições eram sempre ricas de poesia encenada, estampando beleza em narrações simples e corriqueiras.
Adorei os textos! CONTINUE NUTRINDO SUA VEIA POÉTICA E COMPONDO,QUE, ASSIM, VOCÊ ME FAZ SENTIR VONTADE DE ESCREVER E COLORIR ESPAÇOS EMPALHADOS POR TRISTEZA COM A MATIZ LITERÁRIA E INEBRIANTE DA POESIA!
BJOS
julio miragaia disse…
maravilhosos poemas. gostei. é sempre bom passar por aqui.
Unknown disse…
menina! tú és poeta de mão cheia!
vou te mandar uns meus,não agora,pois estou com preesa.
outra hora te mando.
bjos!!
Telma Monteiro disse…
Sem alarde, sem exibição barata,vai espalhando poesia pelos caminhos das horas... Abençoada sejas.

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