Dossiê ME ALUGO PRA SONHAR




Universidade federal do Pará
Instituto de Ciências das Artes- ICA
Escola de Teatro e Dança



Inscrição para Mostra ENEARTE 2008 em Belém/ Pará e ENEARTE 2009 em Salvador
Performance Me alugo pra sonhar[1]



Vive dentro de mim uma cabocla velha de mau-olhado, acocorada ao pé do borralho, olhando pra o fogo. Benze quebranto. Bota feitiço... Ogum. Orixá. Macumba, terreiro. Ogã, pai-de-santo...
Todas as vidas dentro de mim: Na minha vida – a vida mera das obscuras.


(Todas as Vidas - Cora Coralina)






Inspirada no conto Me alugo pra sonhar, de Gabriel Garcia Marquez, a turma de 2º Ano do Curso de Formação de Ator da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará, realizou uma pesquisa- montagem sobre o realismo fantástico e a utilização do miriti como matéria prima na confecção de figurinos, adereços e objetos de cena sob a orientação da Professora Dra. Karine Jansen e do Professor Esp. Bruce Macedo na Disciplina Experimentação Cenográfica que ocorreu no período de maio – junho de 2008.
A performance dos alunos, na forma de solos, ganhou assim as ruas da cidade de Belém numa intervenção urbana realizada na Praça Brasil no Bairro do Umarizal durante uma noite cotidiana na cidade e na abertura do Festival Territórios de Teatro ocorrido no Instituto de Artes do Pará, em Belém, no dia 01 de julho do corrente ano. O que se presenciou com a atividade foi um ícone para o processo de formação acadêmica dos atores/ atrizes intérpretes criadores (as) assim como para as manifestações cênicas da cidade uma vez que a atividade conta com a total interação do público presente quando interrogado, inquirido, provocado pelas falas aparentemente desconexas e sem sentido lógico – poemas, fragmentos de texto, pequenas histórias – que rasgam a calma monotonia do lugar- tempo presente. O silêncio, inclusive, trazido à tona por alguns trabalhos, salienta e desnuda o universo cênico realista- fantástico em questão.
Sobre o autor
Gabriel García Márquez, nasceu em Aracataca, Magdalena, em 6 de março de 1927. É considerado um importante escritor colombiano, jornalista, editor e ativista político, que em 1982 recebeu o Nobel de literatura por sua obra, que entre outros livros inclui o aclamado Cem Anos de Solidão. Foi responsável por criar o realismo mágico na literatura latino-americana.Viajou muito pela Europa e vive actualmente em Cuba a lutar contra o câncer. É pai do realizador Rodrigo García.
Tinha oito anos (1936) quando seu avô morreu. A família deixou então Aracataca, devido à crise da plantação bananeira, e Gabriel estudou em Barranquilla e no Liceu Nacional de Zipaquirá, passou a juventude ouvindo contos das Mil e Uma Noites; sua adolescência foi marcada por livros, em especial A Metamorfose, de Franz Kafka. Ao ler a primeira frase do livro, Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranqüilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso, pensou então eu posso fazer isso com as personagens? Criar situações impossíveis?. Em 1947 muda-se para Bogotá para estudar direito e ciências políticas na universidade nacional da Colômbia, mas abandonou antes da graduação. Em 1948 vai para Cartagena das Índias, Colômbia, e começa seu trabalho como jornalista.
Teve como seu primeiro trabalho o romance "La Hojarasca" publicado em 1955. Em 1961 publica "Ninguém escreve ao coronel". A obra Relato de um náufrago, muitas vezes apontada como seu primeiro romance, conta a história verídica do naufrágio de Luis Alejandro Velasco e foi publicado primeiramente no "El Espectador", somente sendo publicada em formato de livro anos depois, sem que o autor soubesse . O escritor colombiano possui obras de ficção e não ficção, tais como Crônica de uma morte anunciada e El amor en los tiempos del cólera. Em 1967 publica Cem Anos de Solidão, livro que narra a história da família Buendía na cidade fictícia de Macondo, desde sua fundação até a sétima geração. Este livro foi considerado um marco da literatura latino-americana e exemplo único do estilo a partir de então denominado "Realismo Fantástico". Suas novelas e histórias curtas - fusões entre a realidade e a fantasia - o levaram ao Prêmio Nobel de literatura em 1982.Em 2002 publicou sua autobiografia Viver para contar, logo após ter sido diagnosticado um câncer linfático.



2. Realismo fantástico



O realismo mágico é uma escola literária surgida no início do século XX. Também é conhecido por realismo fantástico, ou realismo maravilhoso, principalmente em espanhol.
É considerada a resposta latino-americana à literatura fantástica do início do século XX. Entre seus principais expoentes estão o colombiano Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura, e o argentino Julio Cortázar, mas muitos chamam o venezuelano Arturo Uslar Pietri de pai do realismo mágico. No Brasil, um representante destacado desta corrente literária foi José J. Veiga.
Outro grande mestre do realismo mágico foi o argentino Jorge Luis Borges. O cubano Alejo Carpentier, no prólogo de seu livro Reino deste mundo, define seu trabalho sob o realismo maravilhoso, que apesar de semelhante ao realismo mágico de Garcia Marques, não se confunde com ele.
O realismo mágico se desenvolveu fortemente nas décadas de 60 e 70, como produto de duas visões que conviviam na América hispânica e também no Brasil: a cultura da tecnologia e a cultura da superstição. Surgiu também como forma de reagir, através das palavras, contra as ditaduras da região.
Ele pode ser definido como a preocupação estilística e o interesse de mostrar o irreal ou estranho como algo cotidiano e comum. Não é uma expressão literária mágica: sua finalidade não é a de suscitar emoções, mas sim de melhor expressá-las e é, sobretudo, uma atitude frente a realidade. Uma das obras mais representativas deste estilo é Cem anos de solidão', de Gabriel Garcia Márquez.
Apesar de aparentemente desatento à realidade, o realismo mágico compartilha algumas características com o realismo épico, como a pretensão de dar verossimilhança interna ao fantástico e ao irreal, diferenciando-se assim da atitude niilista assumida originalmente pelas vanguardas do início do século XX, como o surrealismo.



3. A pesquisa do enredo e da cena a partir do miriti[2]


o MIRITI, palmeira conhecida como isopor na Amazônia, freqüente também na região do Cerrado se constitui na matéria- prima desta pesquisa. Dela se aproveita tudo: palha para cobertura de casas, fruto para confecção de doces, seiva para fazer vinho, tala para cestarias, folhas para a confecção de cordas, e o tronco para a produção de canoas, brinquedos e esculturas. É matéria prima básica em muitas etnias indígenas. Atinge até 35 metros. Possui folhas grandes, em formato de estrela. As flores são dispostas em longos cachos de até 3 metros de comprimento e possuem coloração amarelada, surgindo de Dezembro à Abril.
É típica nas formações denominadas "veredas", onde acompanha um curso d'água ao longo do sertão. Só sobrevive em locais alagados.
O processo de confecção do figurino adereços dos solos foi muito significativo pra compreensão da concepção de realismo
fantástico uma vez que os alunos puderam conceber o trabalho dentro de um projeto inovador e altamente técnico o que exigiu dos mesmo uma orientação minuciosa sobre o trabalho com o miriti, formas e diálogos possíveis, a elaboração de um projeto gráfico sobre o figurino/ adereços/ objetos a serem confeccionados num tempo criterioso de montagem. O “mármore caboclo” como é popularmente conhecido na região, deixou- se traduzir como recurso sensível nos diversos elementos que foram surgindo fruto do trabalho coletivo e da generosidade técnica dos professores que nos ajudaram sobremaneira nessa construção poética.

4. O resultado cênico

O estudo da obra e a pesquisa cenográfica culminaram com uma riqueza de gestual, partitura corporal e a composição de um “quadro” delicado criado a partir do imaginário motivado pela criatividade e a energia do elenco, a qual queremos compartilhar como Mostra dentro da programação do XII ENEARTE, possibilitando despertar nos participantes do evento a relação estreita entre arte- cidade- contemporaneidade essenciais ao movimento teatral na atualidade objetivando


Equalizar gestos e movimentospermitir o devirprecisar a ação no espaço-temporevestir máscaras em ritmos distintosrevelar o organismo das representaçõesarte de não-interpretardo ser/estartransmitir com o olharafectações imediatasperturbarcomunicar pontos de fugaatuar na zona de conflitoseis a tarefa artística do atleta das emoções.(Raffhitas Cornejo)
[1] Projeto de intervenção teatral organizado por Rosilene da Conceição Cordeiro, Licenciada plena em Pedagogia pela UFPA, integrante do Projeto de Extensão O Resgate da rádio novela pelo Instituto de Ciências das Artes da UFPA ( 2006 - 2009), aluna concluinte do Curso de Formação em Ator da Escola de Teatro e Dança da UFPA, Atriz integrante da Cia. THAETRO de Performances e Espetáculos e Grupo de Performances Poéticas CLAMA, DECLAMA, RECLAMA, ministrante de mini – cursos e oficinas nas áreas de Teatro e Literatura em escolas da rede pública e particular de ensino .
[2] MIRITI ou BURITI. Nome científico: Mauritia flexuosa, Família: Palmae

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