Da PALAVRA que instaura os discursos: conceitos sem preconceitos!*
Por Rosilene da Conceição Cordeiro[1]
Colégio Marista Nossa Senhora de
Nazaré.
Belém/ PA.
A linguagem e a vida são uma coisa só (...).
E o idioma é a única porta para o infinito. Meditando sobre a
palavra, o escritor repete o processo da criação. (Guimarães Rosa)
Tudo que existe tem nome. Se não o tem, como chamá-lo, como defini-lo,
como conhecê-lo? Na vida humana, é imprescindível recorrer às palavras para expressar-se,
para comunicar-se, para traduzir-se enquanto pensamento, ser pensante num mundo
de coisas, símbolos, fatos e relações. Ao se organizarem em frases, estas
adquirem sentidos, formas, afirmativas e/ou negativas específicas daquilo que
se acredita ou que refutamos que defendemos ou duvidamos. As palavras carregam em
si significações distintas nos diferentes contextos e nas diferentes vozes que
as movem no tempo e espaço à fora. Trafegam indeléveis pelas ideologias, pelas ações,
conformações, medos, angústias, desaprovações, protestos e preconceitos que
trazem consigo, porque estes também são próprios da palavra que instaura o
mundo dos humanos pela fala e pelo registro escrito daquilo que ela encerra, daquilo
que ela nomeia, conceitua e veicula.
O Curso Fenômeno Religioso: Conceitos, categorias e dinâmica curricular,
não poderia começar de forma mais pontual,
senão por oportunizar aos participantes os contatos iniciais com os conceitos,
as diferentes palavras que organizam
os diversos discursos em torno da temática de estudo em questão. Conhecer a
diversidade vocabular com que especialistas tem tratado este campo de
conhecimento não apenas nos orienta semanticamente como nos instrumentaliza no
ato primeiro de conceber uma idéia particular em torno das temáticas abordadas
a partir daqui, que se desenvolverão no âmbito deste estudo coletivo com
enfoque num resultado pessoal extremamente importante para nossa carreira
docente e profissional Acredito que desta experiência, obteremos muito mais que
uma culminância em certificação: poderá seguir conosco numa melhor compreensão
de nossa área de atuação, desencadeando uma visão plural mais acertada do
universo em que se encontra o nosso fazer e o nosso pensar sobre o Ensino Religioso
na atualidade, em solo de educação marista brasileira.
O Curso que prevê a troca de experiências e saberes em espaço de EAD se
inscreve num contexto primoroso em que a formação continuada em âmbito de Projeto
de Educação Marista, enquanto Políticas Institucionais nas Ações, prevista em
seu documento nacional, considera a sua importância e a sua necessidade em face
das profundas transformações por que passam os cenários educativos, panoramas onde
a pesquisa precisa surgir imperiosa. E é nesse universo que pulsa exigindo de
nós uma ação comprometida com práticas inclusivas, solidárias e dialógicas com
os múltiplos enredos e cenários que nos cercam como docentes de ER, que somos convocados
a produzir e compartilhar conhecimentos, a fim de nos legitimarmos como docentes
pesquisadores de um campo de conhecimento relativamente jovem do ponto de vista
epistemológico, imprescindível à formação integral dos sujeitos educativos na
diferentes fases de sua vida acadêmica. Para tanto, o estudo é mister e a
socialização dessas aprendizagens nos permitem consolidar teorias e práticas
como coletivo criador que somos. Não podemos esquecer, assim que,
A criação implica uma experiência sensível, deixar-se tocar, mover e
comover. É um contínuo processo de aprendizagens de saberes, de produção de
múltiplas linguagens, de construção de diversas possibilidades de pensamento e representação. (Projeto Educativo
do Brasil Marista, 2010, p. 68)
De acordo com as premissas do documento em interface com os textos lidos
neste primeiro módulo, compreendo a natureza de aprender a aprender nesta
plataforma virtual de relação formativa a partir do reconhecimento dos
distintos lugares do discurso do fenômeno religioso, da religiosidade e da
religião, dando vez às múltiplas formas de concebê-los e conceituá-los sob
enfoques diversos em realidades sócio-culturais distintas.
Tendo em vista que as religiões surgem da pergunta e se movimentam em
torno das possíveis respostas que surgem, desaparecem e ressurgem; e
considerando a problematização uma etapa anterior à construção do diálogo
democrático, entendo que precisamos nos munir de habilidades capazes de
apresentar pelos discursos que pautam nossa prática, nos revelar teoricamente-
correndo riscos, inclusive!- ante a grandeza de “verdades” presentes nos lócus
de estudo pelos sujeitos aqui envolvidos.
Se trata de restaurar a natureza de nossa área, antes entre nós,
estudiosos do fenômeno religioso, da religiosidade e da religião, para então
assumirmos uma postura mais segura diante dos desafios que se apresentam no
dia-a-dia do currículo, das orientações didático-pedagógicas, das relações
interpessoais com discentes, familiares e técnicos, que muitas vezes
desconhecem nosso verdadeiro lugar dentro da instituição escolar. E mais que
isso, como educadores maristas que somos assumir uma atitude de retorno, uma
vez que a evangelização em pastoral
ocorre em sentido horário, conjuntamente com a necessidade de tornar Jesus Cristo
conhecido, amado e seguido, uma vez que nos muitos caminhos que fez, as
ideologias trataram de perseguir a negação da realidade transcendente como
fruto de um fazer sócio-cultural, negado por séculos mas hoje validado pela
própria Ciência, como área para qual volta hoje seus interesses de pesquisa e
estudo. Isso não é fácil, por isso precisamos ser uma voz uma, fortalecida e
balizada pelo conhecimento científico tendo em vista que hoje este se torna
nosso aliado, pois nem sempre foi assim:
[...] nessa
trajetória filosófica, o Deus da vida foi desconsiderado não porque não
pudesse, de fato, ser analisado filosoficamente, mas porque se produziu essa
idéia, ou seja, a de que ele não podia ser objeto de pesquisa filosófica. O
resultado foi a indiferença e mesmo o desprezo por toda uma região da
experiência humana, que, entretanto, é incontornável e resiste à qualquer
tentativa de negação: a sua dimensão transcendente; sua necessidade de
realização pelo encontro pessoal com uma Realidade Transcendente a que se
costuma chamar de Deus. (SAVIAN FILHO, 2010, p. 03)
Descobrir conceitos, desvelar preconceitos obtusos que há décadas tem emperrado
nossa compreensão das realidades distintas; refletir e dialogar coletivamente sobre
eles significa sermos capazes de colocar-se como protagonistas aprendentes
deste novo espaçotempo[2]
educativo no qual a nossa mediação como agentes, formadores de opiniões e
condutas q/eu somos, pode se efetivar e validar o exercício do nosso papel como
educadores de forma comprometida com a visibilidade com o nosso campo de
atuação e a busca do reconhecimento social e político deste, na mediação prevista em nossas competências
docentes. Mediação entendida como intervenção intencional do professor para
criar condições de aprendizagem explorando a compreensão, a apropriação e a
produção do conhecimento em conformidade com orientações do Projeto Educativo do Brasil Marista
(2010) e das Diretrizes Curriculares para
o Ensino religioso em âmbito nacional.
Temos claro nosso propósito, no
entanto é desafiador colocá-lo na pauta do dia numa sociedade imediatista,
hedonista de consumo ágio e descartável que se esqueceu de observar que mesmo, “[...]
nas suas diversas produções, sejam artísticas, literárias e até lúdicas, o ser
humano sempre expressa um modo de transcender a realidade em que vive. ( trecho
retirado do texto de apoio “O homem e a experiência religiosa”). Busca o “algo
mais” que dê sentido à sua existência
Para instituir a nossa palavra no mundo do conhecimento, nossa linguagem
peculiar de ER numa dimensão política, democrática e dialógica é preciso conhecer
os conceitos “que funcionam como ferramentas de construção, projeção e
proposição, de outras práticas mais inclusivas, mais significativas, mais contextualizadas-
enfim, de outra educação para novas infâncias e juventudes”. (PEBMarista, 2010,
p. 53). Para tanto cumpri aqui um pôr-se
a caminho, porque o caminho posto não nos permitiu conhecer e escolher
outra forma de conceber o ER senão por uma via de mão única. Hoje, queremos os
muitos caminhos oportunizados pela troca, nós o fazemos a partir do momento em
que nos propomos dividir, compartilhar e descobrir o novo. Novo que implica
busca, desafio, erros e acertos, seguindo sempre. E seguir juntos, é sempre
melhor.
Produção apresentada no âmbito do Curso fenômeno religioso: Conceitos, categorias e dinâmica curricular. NEAD, 2012
REFERÊNCIAS
BOAVENTURA. Josuel dos Santos BOENING. Antonio. Negritude e experiência de Deus. Teocomunicação, Porto Alegre, v.
37, n. 156, p. 203-222, jun. 2007.
O fenômeno religioso como experiência
universal. AEC/ SP
Projeto Educativo do Brasil
Marista: nosso jeito de conceber a educação básica. União Marista do Brasil.
Brasília: UMBRASIL, 2010.
O homem e a experiência religiosa. Texto de apoio. Equipe do NEAD, ( s.d)
Religião e religiosidade. Texto de apoio. Equipe do NEAD, (s.d)
SAVIAN FILHO. Juvenal. A Persistência de Deus. Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/a-persistencia-de-deus/
Filosofia da Unifesp/ EPM
Conceitos
fundamentais do fenômeno religioso e da religiosidade. Ensino Religioso na Educação Marista. Módulo I/
NEAD, 2012.
[1] Pós-graduanda
em Artes Cênicas com pesquisa sobre Estudos Contemporâneos do Corpo pelo
Instituto de Ciências da Arte/ ICA- UFPA. Pedagoga, atriz e professora de
Sentido Religioso na Ed. Infantil e Ensino Religioso no EF no Colégio Marista
Nossa de Nazaré em Belém/ PA. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/4584219864738027
[2] É a expressão usada no Projeto Educativo do Brasil Marista para caracterizar a escola marista "pois se materializanum tempo e lugar materializados, precisos, específicos, numa história e geografia cotidianas nas quais nos formamos como sueitos da educação- da educação marista" ( PEBMarista, 2010 Cap. 3, item 3.3, subitem 3.3.3
Comentários